quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Uma crônica brasileira.

   Quando seu pai morrera Marcos perdera o chão, tinha apenas  10 anos e tudo que sabia havia aprendido com o pai, toda a segurança e confiança que um filho único e órfão de mãe poderia desejar, seu pai esbanjava e lhe assegurava. O pai de marcos era um malandro velho criado nas ruas e bares da cidade, morrera de cirrose aos 45 anos, embora gostasse de beber e da vida boemia,sempre e absolutamente sempre dedicara-se mais ao filho do que a sua profissão; a malandragem.Seu Mário ensinara Marcos a roubar no baralho, a jogar sinuca,o jogo dos dados e pequenas mazelas de seu oficio.Debruçado sobre o leito frio de seu pai Marcos um muleque esperto,porem jovem e agora sozinho, não sabia que seu maior herói agora deixava as mesas e calçadas da cidade para ocupar uma cova rasa no pedaço de terra mais silencioso e sossegado da cidade.Não sabia também como conseguiria comida ou um teto em que não sofresse com a chuva daquele fatídico inverno. A sua resposta veio em terno e saia, o conselho tutelar levara o pequeno a um de seus poucos parentes, uma irmã de sua mãe que Marcos nunca chegou a conhecer ou sequer ouvira falar. A vida na casa de Tia Marisa não era fácil, o começo foi tranqüilo e a personalidade pacata e discreta de Marcos ajudou bastante, mas com tempo acharam que o pequeno era uma espécie de saco de pancadas que tinha escrito em sua testa: alivie seus problemas. Toda maldita vez que alguém chegava em casa estressado ou deprimido, sobrava um chute ou cascudo ao nosso pequeno amigo .Seu único refugio naquela maldita existência era um biblioteca que achara a um quarteirão de onde morava, ao se sentir triste corria para lá, escondido entre grandes estantes cheias de poderosas historias e inesgotáveis fontes de conhecimento nosso amigo se debulhava em lagrimas, lembrava-se da engraçadas historias de seu pai e das tardes de aprendizado. O pequeno malandro passara a ler as consagradas historias e seus grandes escritores, passara também a adquirir o habito de furtar pequenos exemplares já que não se contentava com as 8:00 hs de funcionamento da biblioteca, quando a fome apertava nosso amigo enchia a barriga com os banquetes celebrados em épicos romances, um saboroso banquete de palavras, quando as dores das pancadas eram fortes demais nosso amigo lembrava de poderosos heróis vingadores,quando as humilhações eram insuportáveis o pequeno buscava a sabedoria dos antigos pensadores...
       
   Espere meu caro leitor... Cometi um erro “crasso” essa historia não é totalmente verdadeira, desculpe amigo leitor porem não posso continuar com  tamanha hipocrisia algo tão serio como uma bela historia, não ser bela por não ter um final feliz não é o comum, seria de um egoísmo hediondo privá-lo da verdade. A crueza da nossa historia está em que poucos meninos em um país deficiente e desigual como o nosso procurariam refúgios em livros ou numa rica cultura, a verdade é que palavras não aliviam a dor da fome e que vingadores imaginários não secam as lagrimas de rostos infantis; que antigos pensadores não falam “brasileiro” .A realidade pura, crua e “consoladora” da nossa sociedade é que o nosso pequeno amigo Marcos, filho de malandro e aprendiz de malandro tornara-se mais um outro larapio de rua,mais um dos muito órfãos brasileiros, mas um numero na manchete do jornal nacional...Até que um dia topamos com ele numa mesa de bilhar, e ele venha nos contar com quem aprendera a jogar sinuca.  

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ponto.

Não querer o normal
O caminho já trilhado,
O que já foi visto, o que é repetido
É sinônimo de loucura

A anormalidade é vista como deficiência
Em um mundo de diferenças
Estradas iguais para pessoas diferentes
Pressionam mentes

Tornam imaginação,criatividade
Em algo demente,deficiente
Limitam fontes de conhecimento
Esculpem vidas como concreto

Sentimentos  transmutados em interesses
Profissões em status e dinheiro

Em um mundo em que “tempo é dinheiro”
A experiência , a historia vivida e os velhos
Valores de outra hora,
Fazem apenas parte de uma velha história.